quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

ULTRASSOM TERAPÊUTICO: ASPECTOS IMPORTANTES


Boa tarde, pessoal!
Hoje, vou esclarecer alguns aspectos sobre o uso do ultrassom terapêutico. Um recurso amplamente usado na prática da fisioterapia, que vem sendo verdadeiramente marginalizado por alguns “profissionais”. Então, vamos lá!

INTRODUÇÃO

Mesmo eu sendo um adepto assumido pela terapia manual e pela cinesioterapia, acho que é de fundamental importância que o fisioterapeuta domine, nem que minimamente, qualquer recurso terapêutico que ele se dispõe a usar como conduta com o seu paciente. Como eu sempre falo: “fisioterapeuta tem que ter um arsenal terapêutico. Se um recurso não der certo, tente outro”. Afinal, estamos lhe dando com seres humanos, então não é porque deu certo com a maioria, que obrigatoriamente vai dar com todos. Por isso, a importância de estudar e manter-se atualizado, com o máximo possível de “ferramentas de trabalho”. Mas, infelizmente, não é o que acontece com muitos profissionais. Em alguns casos, o profissional acaba por sucumbir ao meio onde estão empregados, acabam se acomodando e adotando os tais “protocolos de tratamento). Principalmente, quando se fala de eletrotermofototerapia, que alguns “profissionais” acham que é só ligar o aparelho, “tratar” o paciente, e depois mandar embora. Não somente os recursos eletrotermofototerapêuticos, como qualquer outro, devem ser aplicados com responsabilidade e conhecimento técnico! Dessa forma, é obrigação do fisioterapeuta (e de qualquer profissional de saúde!) se atualizar e oferecer o melhor tratamento possível ao paciente que encontra-se sob os seus cuidados.
Por exemplo, a terapia manual é fascinante, me encanta desde a época da graduação, com diferentes técnicas e manobras fantásticas, resultados rápidos e etc., mas, convenhamos que muitas dessas técnicas e manobras, estão longe de ter um bom nível de evidência científica, mesmo com bons resultados na prática clínica diária. Ou seja, também tem muita gente usando a terapia manual (ou técnicas manuais) de forma indiscriminada. Já ouvi alguns colegas dizendo “ eu nunca usei um aparelho na vida! ”. Enfim, respeito a opção de cada um. Até porque, realmente cada profissional acaba tendo suas preferências terapêuticas (desde que não seja empirismo!). Isso é comum, e acaba surgindo através da experiência clínica adquirida por cada um, através dos resultados obtidos ao longo dos anos de experiência. Óbvio que existem os “charlatões”, que quando falam sobre “seus métodos de tratamento”, dizem que tratam e resolvem tudo. Para esses eu só digo uma coisa: menos, né?!
Então, após essa minha breve (nem tão breve assim!rs) opinião sobre o tema, vamos ao ultrassom terapêutico!

CONCEITOS E BASES FÍSICAS DO ULTRASSOM TERAPÊUTICO

O ultrassom terapêutico é um recurso físico que se utiliza de energia mecânica, gerando uma onda mecânica em alta frequência para promover efeitos terapêuticos no tecido biológico. Essas tais “ondas mecânicas”, dependem de um meio denso (aquoso ou gel) para serem propagadas. O ultrassom possui uma frequência de emissão que varia de 1 a 3MHZ na maior parte dos equipamentos. Essa variação na frequência de emissão é importante pra definir as estruturas ou tecidos que serão atingidos, sendo o ultrassom de 1MHZ mais profundo (3 – 5cm) e o de 3MHZ mais superficial (1 – 2cm). Isso é importantíssimo na hora da escolha terapêutica! O que isso quer dizer? Isso significa que a menor frequência (1MHZ) consegue gerar maior comprimento de onda e menor taxa de absorção, ganhando assim mais profundidade e consequentemente sendo absorvido por tecidos mais profundos (Ex: osso). Já a menor frequência (3MHZ), gera menor comprimento de onda e maior taxa de absorção, sendo rapidamente absorvida por tecidos mais superficiais (Ex: epicôndilo medial do cotovelo – que também é osso). Notaram que tanto no ultrassom de 1MHZ, como no de 3MHZ eu dei como exemplo estruturas ósseas? Pois é., portanto, não é a estrutura que determina o tipo de frequência de emissão que você vai escolher (1 ou 3MHZ), mas sim a profundidade da estrutura (ou tecido) que você quer atingir. Ok?! Por isso que provavelmente vocês já ouviram alguém falando: “O ultrassom de 1MHZ é pra fisioterapia e o de 3MHZ é pra estética”, isso se deve as camadas atingidas por um (1MHZ) e pelo outro (3MHZ) – Figura abaixo – Mas, Como acabamos de ver, não é bem assim, né?! Não necessariamente o ultrassom de 3MHZ tem que ser usado somente para fins estéticos.

Diferentes frequências de emissão do ultrassom.

APLICABILIDADE DO ULTRASSOM TERAPÊUTICO

Antes de você usar ou adquirir um aparelho de ultrassom, algumas informações devem ser levadas em consideração. É importante saber que os feixes de ultrassom não são homogêneos na sua geração pelo transdutor, ou seja, esses feixes podem variar. Mas o que isso quer dizer, né?! Resumidamente, isso significa que quanto mais heterogêneo for o feixe, menor é a qualidade. Essas informações costumam vir presas no cabo do transdutor, mas muita gente se quer verifica (por negligência ou falta de conhecimento). Essas variações dos feixes vêm descritas como taxas de não uniformidade do pulso (ou BNR, do inglês beam non-uniformity ratio). De forma simples, quanto menor for o BNR (entre 2 e 6), maior será a qualidade do feixe ultrassônico gerado (feixe mais homogêneo). Tendo assim, menor risco de gerar picos indesejados e possíveis desconfortos ao paciente. Veja na figura abaixo como um BNR elevado (heterogêneo) pode causar picos de intensidades indesejados.

Comparação entre a emissão por equipamentos com diferentes BNR.

Por isso que alguns alunos as vezes chegam e me perguntam: “ Alex, ultrassom pode gerar dor? ”. O uso do ultrassom não é pra causar desconforto ao paciente, mas o BNR elevado, juntamente com a intensidade alta, são responsáveis por esses possíveis desconfortos. Por isso, é prudente usar um aparelho com BNR baixo, principalmente quando for usar parâmetros com alta intensidade (mas não somente!).

MODOS DE EMISSÃO

De forma simples e direta, são dois os modos de emissão do ultrassom terapêutico: pulsado (fase aguda e subaguda da lesão) e contínuo (fase crônica). O modo contínuo tem o potencial de gerar calor nos tecidos e o modo pulsado tem seus efeitos terapêuticos explicados pelos estímulos mecânicos atérmicos oferecidos. Ambos os modos têm como principal efeito auxiliar no reparo tecidual. Dependendo da escolha do modo de emissão, alguns aparelhos podem oferecer ainda a opção de emissão dada em ciclos de trabalho (DC, do inglês duty cycle). No modo contínuo ele mantém um DC de 100%, já no pulsado o DC pode variar entre 50%, 20% e 10%. Mas o que isso quer dizer? Vamos pegar como o exemplo o ultrassom emitido com um DC de 50%. Isso significa que a taxa de pulso é de 1:1; ou seja, um pulso ligado e um desligado. Dessa forma, a geração de calor vai ser bem discreta, devido a dissipação do calor. Isso também vale para os outros tipos de DC (10% e 20%), que vão ter uma geração de calor praticamente insignificante.

- O texto já tá ficando extenso, né?! Vou partir pra parte mais prática logo!

APLICAÇÃO DO ULTRASSOM NA PRÁTICA CLÍNICA

Primeira decisão clínica antes de usar o ultrassom é definir qual frequência usar: 1 ou 3MHZ? Lembra que depende da profundidade do tecido?! Só lembrar que essa frequência tem uma relação inversamente proporcional, ou seja, quanto maior o MHZ, menor a profundidade e vice-versa.
Segunda decisão é definir o modo de emissão: pulsado ou contínuo? Pra tomar essa decisão é necessário levar em consideração a fase inflamatória da lesão, lembram?! De forma simples, sugere-se que em uma resposta inflamatória aguda, deve-se optar pelo modo pulsado com DC de 10% ou 20%; na fase de reparo fibroblástico, modo pulsado com DC de 50%; na fase de remodelagem, modo contínuo com DC de 100%.

- Caso não lembre, sugiro relembrar as fases do reparo tecidual.

Próxima decisão é definir a intensidade. É importante lembrar que dose e intensidade são coisas diferentes:

Dose: Significa ação de doar, aquilo que pode ser doado, no caso do ultrassom, a energia mecânica que é doada, portanto a dose energética do ultrassom é medida em forma de joules (J).
Intensidade: está relacionada com a potência que a energia mecânica será ofertada ao tecido, e essa é medida em W (potência total) ou em W/cm² (potência relativa a um centímetro quadrado).

A intensidade está relacionada a “energia de um golpe”. Dessa forma, podemos fazer uma analogia da seguinte forma: qual intensidade o tecido suporta apanhar? Na fase mais aguda o tecido suporta “golpes mais fracos” e na crônica “golpes mais fortes” (obviamente pela fragilidade dos tecidos em cada fase). 
Resumindo: fase aguda 0,1-0,3W/cm²; subaguda 0,3-0,5W/cm²; crônica 0,5-0,8W/cm².

E pra terminar, vamos falar sobre o tempo de aplicação para que se entregue a dose ideal (medida em J). Vou tentar simplificar, porque envolve cálculo (algo que os alunos geralmente fogem!rs)

Alguns autores sugerem que uma dose média de 20J é interessante no processo de reparo tecidual. A partir disso, algumas conclusões foram tiradas:
Dose na lesão: Aguda (15 – 25J); Subaguda (25 -35J); Crônica (35 – 45J).
Com essa informação, é só aplicar a lei de Joule (relação entre energia doada, potência e tempo). D: dose (J); W: potência (W); T: tempo (s); A: área (cm²).

Fórmula: D=(W .  t)/A

Para colocar o tempo como variável a ser descoberta, usa-se: t=(D .  A)/W

Uma forma mais simples de calcular o tempo é dividir a área a ser tratada pela ERA (Área de Radiação Efetiva), que corresponde aproximadamente a área do cabeçote.

Tempo = Área/ERA

Exemplo:
Área: 4 (largura) x 8 (comprimento) = 32; ERA = 4 cm; 32/4 = 8 min

ORIENTAÇÕES DE USO

Nunca ligue o ultrassom antes de acoplá-lo ao local a ser tratado;
O cabeçote deve estar totalmente em contato com a superfície a ser tratada;
Nunca mantenha o cabeçote parado (evitar ondas estacionárias);
Use movimentos suaves (circulares ou longitudinais) para deslizar o cabeçote;

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como podemos ver, o ultrassom não é tão simples como algumas pessoas fazem parecer, né?! Por mais que alguns colegas usem o ultrassom terapêutico (ou qualquer outro recurso eletrotermofototerapêutico) como principal conduta em algumas lesões, EU, continuo com o pensamento de que qualquer recurso eletrotermofototerapêutico deve ser usado de forma complementar ao tratamento. Sabendo que, sem dúvidas, existem situações que isso pode não ser possível ou até mesmo indicado. Lembrando que não existe “receita de bolo”, existe raciocínio clínico!

Espero ter ajudado, até a próxima!

Obs¹: Os textos desse blog são baseados em literatura cientifica (artigos e livros) e na experiência profissional do autor.

Obs²: Os textos desse blog servem como dicas e esclarecimentos para os leitores. Sendo assim, não substitui a orientação de um profissional de saúde habilitado, caso seja necessário.

Fonte e leitura sugerida:

1- Draper D, Castel J, Castel D. Rate of temperature increase in human muscle during 1MHZ and 3MHZ continous ultrasound. J Orthop Sports Phys Ther. 1995 Oct;22(4):142-50;

2- Indústria Brasileira de equipamentos médicos. SONOPULSE compact [manual] Amparo: IBRAMED; 2008 [acesso em 2015 dez 12]. Disponível em: http://www.ibramed.com.br/wp-content/files_mf/1365184922SonopulseCompact.pdf

3- Speed C. Therapeutic ultrasound in soft tissue lesions. Reumatology. 2001 Dec;40(12):1331-6;

4- Haar G. Therapeutic applications of ultrasound. Prog. Biophys. Mol. Biol. 2007 Jan-Apr;93º(1):111-29;

5- Jorge FS. Aspectos relevantes em ultrassonoterapia e laserterapia. In: Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva; Oliveira RR, Macedo CSG, organizadores. PROFISIO Programa de Atualização em Fisioterapia Esportiva e Traumato-Ortopédica: Ciclo 5. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2015. P.41-84. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v.1);





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