terça-feira, 3 de janeiro de 2017

CINCO MITOS SOBRE A DOR CRÔNICA

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Dor crônica, ou dor que perdura por mais de 3 meses, é um problema mais comum do que muita gente pensa. Na Austrália, por exemplo, uma em cada cinco pessoas relatam ter dor crônica.

Todos nós experimentamos dor em algum momento da vida, e isso é bom. A dor é necessária para todo ser humano viver. Mas, viver com dor, definitivamente não é legal. Pense na última vez que você cortou o dedo ou queimou-se no fogão. Com certeza isso não é divertido, mas geralmente essa dor passa bem rápido.

Imagine, porém, como seria se essa dor não desaparecesse e ficasse lá todos os dias? Então, é mais ou menos essa experiência que as pessoas com dor crônica experimentam.

Mito 1: A dor está toda na sua cabeça

Um equívoco muito comum é dizer que as pessoas estão com dor "apenas" porque são fracas, ansiosas, deprimidas ou estressadas. Isso não é bem assim!


Cada experiência que você vive- toque, calor, frio, coceira, dor - é "criada" pelo cérebro e, portanto, realmente está na sua cabeça. Mas, isso não significa que tais experiências não são reais.

Da mesma forma é a dor, uma experiência real, que representa que seu cérebro está em "modo de proteção", por conta de algum estímulo que ele interpretou como sendo perigoso ao seu corpo.

Se houver sinais suficientes de "perigo" ao seu corpo, então a dor é produzida.

Sentimentos como medo, ansiedade ou depressão podem aumentar os níveis de dor e a chance de desenvolver dor crônica.

Mas, muitas vezes, esses sentimentos só se desenvolvem depois que uma pessoa já tem dor crônica.

Mito 2: Medicamentos são a única forma de tratamento

Existem muitas maneiras de tratar a dor, não somente com remédios.


Uma nova descoberta interessante, é que a dor pode ser tratada apenas olhando para ilusões visuais. "Como assim, Alex?" Calma, vamos lá....

Nosso cérebro combina informações sobre o nosso corpo por meio de muitas fontes, como toque, visão, movimento e som.

Como todas essas informações são combinadas, isso significa que as mudanças nas informações de uma determinada fonte, como a visão, pode mudar a informação de outra, como o sinal de perigo vindo do nosso corpo para o cérebro.

Basicamente, a ideia das ilusões visuais é alterar o sinal de perigo que vem da periferia para o cérebro.

Para esse assunto, sugiro a leitura desse artigo http://rheumatology.oxfordjournals.org/content/early/2011/03/28/rheumatology.ker104.full

Há muitas outras opções disponíveis para pessoas que sofrem com dor crônica que não envolvem medicamentos, incluindo:

- Exercício supervisionado/orientado por profissional de saúde capacitado;

- Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), concentrando-se especialmente em reduzir o medo do movimento (cinesiofobia),  a fim de mudar o comportamento motor, estimulando uma participação mais ativa no tratamento e eliminando as crenças negativas;

- Educação em dor (explicar os mecanismos neurofisiológicos da dor), o que ajuda a compreender que a dor  não é necessariamente associada a lesão tecidual.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3268359/

Obs: Em breve mais textos sobre tratamento da dor crônica!

Mito 3: Mais dano tecidual significa mais dor

Ao contrário da crença popular, você pode sentir dor sem qualquer lesão tecidual.


Por outro lado, você pode ter dano tecidual e não sentir dor. Fantástico, não? Também acho!

Por exemplo, basta você pensar em um momento que apareceu um hematoma no seu braço, mas que você não lembra de ter machucado. Você tinha dano no tecido, mas não tinha dor.

É fundamental entender que a dor não é um indicador preciso de lesão nos tecidos, principalmente em pessoas com dor crônica, pois muitas vezes o dano tecidual já cicatrizou.

Muitas coisas podem mudar a quantidade de dor que você experimenta, sem alterar a quantidade de danos nos tecidos. Por exemplo, só de você esperar que determinada situação possa aumentar sua dor, isso pode inibir o efeito de um medicamento analgésico poderoso.

Assim como, muitas pessoas que estão sofrendo de dor de dente e só de chegar na recepção do consultório já sentem a dor diminuir.

Em pessoas com dor crônica, o sistema nervoso pode tornar-se especialmente sensível.

É como um rádio; Se você aumentar o volume, isso não significa que o cantor esteja cantando mais alto, significa apenas que você está amplificando o som.

Da mesma forma, se o sistema nervoso estiver sensível, ele vai amplificar os sinais para o cérebro, o que resulta em mais dor - independentemente de quanto dano tecidual esteja presente.

Nós também sabemos que diferentes áreas do cérebro participam do processo de dor e que uma área pode ativar a outra.

Se você muitas vezes se sentir ansioso (a) quando ocorrer uma "pontada" durante o movimento de flexão do tronco, por exemplo, então as áreas do seu cérebro que ativam com o movimento, ansiedade e dor, acabam criando uma relação e começam a disparar todas juntas.

Isso significa que, apenas o movimento ou a ansiedade podem ativar esta rede neuronal do cérebro (ansiedade-movimento-dor). Então você sente dor, sem realmente haver um sinal de perigo por lesão tecidual.

Mito 4: Você precisa de muitos exames para descobrir a origem de sua dor

Ir em busca de uma radiografia, ressonância magnética ou tomografia computadorizada é uma prática comum em alguém que esteja passando por uma dor lombar crônica.


Em alguns casos, esses exames podem ser realmente necessários, como quando identificamos algumas bandeiras vermelhas durante o processo de avaliação (por exemplo, problemas com a função do intestino ou da bexiga). Mas, na maioria das vezes, esses exames são desnecessários em pessoas com dor lombar. E esses tipos de exames acabam promovendo crenças negativas nas pessoas ("Tenho hérnia de disco, por isso tenho dor lombar!"), gerando um efeito nocebo (algo que não deveria ser nocivo ao organismo, mas acaba incitando sintomas de doença).

O problema é que as ressonâncias magnéticas são muito sensíveis, mas não tão específicas. Isso significa que elas vão detectar pequenas mudanças estruturais - mas essas mudanças muitas vezes não se relacionam com a dor.

Por exemplo, 60% das pessoas sem qualquer dor nas costas terão alterações estruturais nos discos intervertebrais. E mais da metade das pessoas com idade entre 30-40 anos terão sinais de degeneração articular (artrose), apesar de não ter qualquer tipo de dor.

Se você ainda não está convencido (a) de que os exames não são a melhor opção, que tal olhar como é a evolução das pessoas que fazem exames versus as que não fazem.

Pessoas com dor lombar que realizam uma ressonância ao inicio do tratamento apresentam resultados piores do que as pessoas que não realizam. (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20798647)

Tal fato pode ser influenciado por muitas cirurgias desnecessárias (baseadas em exames de imagem) e crenças negativas (medo e ansiedade).

De certa forma, é assustador saber que sua coluna pode não ser estruturalmente sólida o suficiente - e sabemos que esse medo pode piorar as coisas.

Mito 5: Você precisa ser forte para suportar sua dor

Recupera-se da dor crônica não tem nada a ver com ser forte ou estóico.


Na verdade, as pessoas estóicas podem ter resultados piores, pois estes são menos propensos a procurar ajuda profissional. (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1471-6712.2006.00407.x/abstract)

Este atraso na procura de ajuda, pode contribuir para que um problema relativamente "simples", torne-se um problema mais grave. E sabemos que é muito mais difícil tratar um problema crônico, do que um problema que existe há pouco tempo.

Até a próxima!

"Antes de apontar um problema, tenha ao menos uma sugestão para resolvê-lo."

Prof. Alex Oliveira



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