domingo, 5 de março de 2017

MEDICAMENTOS PARA O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR AGUDA?


No mês passado, a American College Physicians (ACP) publicou um guia de prática clínica para o tratamento não-invasivo de pacientes com dor lombar aguda, subaguda e crônica.

E como já era esperado, eles recomendaram  que os pacientes com dor lombar aguda (duração inferior a 4 semanas) e subaguda (entre 4-12 semanas) devem ser tratados com terapias não-farmacológicas!

Dentre as formas de tratamento não-farmacológico, eles indicaram: calor superficial, massagem, acupuntura e manipulação vertebral.

Abaixo segue o resumo das principais recomendações:

Recomendação 1

Como a maioria dos pacientes com dor lombar aguda ou subaguda melhoram ao longo do tempo, independentemente do tipo de tratamento, os clínicos e os pacientes devem escolher tratamentos não-farmacológicos como: calor superficial, massagem, acupuntura ou manipulação espinhal. Se os clínicos ou pacientes desejarem utilizar o tratamento farmacológico, devem optar por medicamentos anti-inflamatórios não esteroides ou relaxantes musculares (nível de evidência: moderada). (Grau de recomendação: forte)

Recomendação 2

Para pacientes com dor lombar crônica, os clínicos e os pacientes devem inicialmente optar pelo tratamento não-farmacológico, por meio de exercícios gerais, reabilitação multidisciplinar, acupuntura, tai chi, yoga, exercícios de controle motor, técnicas de relaxamento progressivo, biofeedback com eletromiografia, terapia com laser de baixa intensidade, terapia cognitivo-comportamental ou manipulação espinhal (nível de evidência: baixa). (Grau de recomendação: forte)

Recomendação 3

Em pacientes com dor lombar crônica, que apresentaram uma resposta inadequada à terapia não-farmacológica, os clínicos e os pacientes devem considerar, primariamente, o tratamento farmacológico com anti-inflamatórios não esteroides e tramadol (analgésico) ou duloxetina (antidepressivo) como terapia secundária. Os clínicos só devem considerar o uso de opióides como uma opção, em pacientes que não tiveram sucesso nos tratamentos anteriormente mencionados e, somente, se os benefícios em potencial superarem os riscos para os pacientes em caráter individual (nível de evidência: moderada). (Grau de recomendação: fraca)

Nessas novas diretrizes da ACP, na minha opinião, a recomendação do tratamento não-farmacológico para pacientes com dor lombar aguda e subaguda é o fato mais relevante. 

Principalmente pelo fato de evitar efeitos tóxicos ao organismo, desnecessariamente. Pois como vimos anteriormente, a dor lombar aguda e subaguda tendem a ter uma evolução natural benigna, independentemente do tipo de tratamento.

Apesar de saber que, culturalmente, não é assim que as coisas funcionam no Brasil. 

Convencer um paciente a não tomar remédio quando ele está em uma crise de dor lombar aguda, não é nada fácil.

Ainda mais quando os pacientes já chegam com a prescrição do tal "diclofenaco de potássio", sem nenhum fundamento e, pior, sem nenhum benefício.

Infelizmente, no Brasil, o médico é quase sempre o primeiro profissional a ser procurado pelas pessoas que encontram-se com um quadro de dor lombar aguda. Raramente você vai ver um paciente buscar o primeiro contato com seu fisioterapeuta, massagista, acupunturista ou qualquer outro profissional não-médico. 

Ai o que geralmente acontece?
Ausência de um exame físico mínimo, prescrição de analgésico (oral ou venoso), solicitação de exames complementares, geralmente ressonância e radiografia (efeito nocebo associado) e, por último (que deveria ser a primeira recomendação), encaminhamento para a fisioterapia. 

Claro que nem todos os médicos (profissionais de primeiro contato) costumam agir dessa forma, seria leviano da minha parte dizer algo desse tipo.

Mas, na minha prática diária (principalmente na rede pública do RJ), é esse o cenário mais frequente.

Como resolver isso então?

Mudança de comportamento dos profissionais de primeiro contato - encaminhar os pacientes para os profissionais mais indicados -  e informação para os pacientes. 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a dor lombar é considerada um problema de saúde pública, certo? 

Mas, por acaso, alguém já viu alguma campanha na TV passando informações de como as pessoas devem agir em um episódio de dor lombar aguda? 
Eu, nunca vi! 

E comercial do remédio "Advil" falando que ele é resolução de tudo que é tipo de dor, já viram? 
Toda hora!!!

Ai o que as pessoas com dor lombar aguda fazem? 
Passam na farmácia e compram o bendito Advil, porque receberam essa informação.......errada!

Falta informação para a população sobre saúde em geral, e com a dor lombar não é diferente. 

Esses, dentre outros, são alguns dos problemas que temos na hora de implementar algumas recomendações dos guias de prática clínica que são elaborados em outros países. 

Por isso, sempre você pegar um guia de prática clínica (guideline), é importante fazer uma "adaptação cultural", perguntando a si mesmo:
Essas recomendações são viáveis para realidade do meu país? 
É possível aplica-las no meu dia a dia?

Converse com seu paciente, explique de uma forma simples e objetiva, sempre com empatia, que eu tenho certeza que ele irá dar credibilidade a você e irá seguir suas recomendações. 

Segue o link do guia da ACP para os que quiserem ler na íntegra:

Até a próxima!